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À conversa com a Prof.ª Maria João Marrafa

Raquel Rodrigues

Conversa com Prof.ª Maria João Marrafa: Texto

Durante as aulas online, a turma discutiu entre si, e com a professora sobre a eventual existência de desigualdade de género, no desporto.


A conversa começou com uma única pergunta, dirigida à professora de educação física, Maria João Marrafa: Ao longo da sua carreira, sentiu discriminação baseada em género?


A professora respondeu: "Há uma projeção maior de tudo o que seja desporto masculino em detrimento do desporto feminino”, apesar disso ter vindo a diminuir. No entanto, acrescenta que a modalidade em questão, bem como o clube, a região, etc. desempenham um papel importante. A professora exemplifica, relembrando os tempos que jogou na equipa de Corfebol, na Batalha, onde os jogos tinham “pouco ou nenhum público”, contrariamente, aos da equipa feminina de futsal.


A professora integrou a Seleção Nacional de Corfebol, durante 5 anos, e afirma não ter sentido discriminação baseada em género, algo reforçado pela essência da própria modalidade que é mista e depende, fortemente, da colaboração entre os géneros.


Pertenceu, também, a uma seleção distrital de Andebol, onde confirma ter existido uma diferença notória entre o público nos jogos de Séniores Masculinos, comparativamente, às Séniores Femininas, apesar de serem mais as atletas que integravam, simultaneamente, a Seleção Nacional da modalidade. 


Após algum tempo, a professora começou a dedicar-se a outros desportos, nomeadamente o ciclismo, onde integra um grupo em que é a única mulher. É aqui que admite sentir a maior discriminação, afirmando ser “complicado vingar num grupo que é só de homens”. A professora reconhece que os seus próprios colegas aparentam ficar felizes, quando a conseguem descarregar, quando conseguem descarregar uma mulher. Porém, reconta algumas situações em que teve de ajudar alguns a chegar ao final do percurso, aproveitando para apontar as diferenças físicas entre o sexo feminino e masculino, e destacando que a resistência é mais favorável ao primeiro. Apesar destas diferenças, reforça que, por vezes, o cansaço dos colegas se deve a uma falta de gestão de esforço, provocada pela necessidade de se destacarem relativamente aos outros.


Conclui, reforçando que considera que a visão da sociedade quanto ao desporto feminino está a evoluir, principalmente quando o mesmo “dá cartas, em termos de medalhas e sucessos” e o desporto masculino, onde é sabido existir um grande investimento, fica aquém do esperado, muitas vezes.


A aluna Ana Reis interveio, afirmando não sentir discriminação na sua modalidade, o Atletismo. Esta é uma opinião contrária à do aluno Francisco Pereira, praticante de Futebol, que considera existir algum sexismo na sua modalidade.


Em seguida, a professora pede a opinião do aluno Rodrigo Duarte, praticante de Futebol, que considera não existir discriminação e que “há-de dar valor àquilo que dá mais rendimento e que as pessoas gostam mais e que até tem mais qualidade”. O aluno acrescenta que não concorda que as atletas femininas recebam o mesmo que os masculinos, uma vez que o desporto feminino não movimenta a mesma quantidade de dinheiro. Este argumento é rebatido pela professora, que afirma que as diferenças nas receitas financeiras se devem à falta de divulgação do desporto feminino. O aluno mantém a sua posição, destacando que será sempre dado mais valor ao desporto masculino, pois está “mais desenvolvido e tem mais capacidades (...) e melhor qualidade de jogo”, ao que a aluna Matilde Pereira contra argumenta, alegando que algumas das diferenças se devem ao facto do “desporto masculino sempre ter sido mais financiado” e de, por exemplo, o futebol feminino, tal como acontece com outras modalidades, ser muito mais recente que o masculino.


A conversa foi concluída sob a reflexão que é necessário mantermo-nos lúcidos e atentos ao quotidiano e ao que a sociedade nos impõe, bem como devemos ter opiniões coerentes, conscientes, capazes e sensatas, e, principalmente, respeitarmos as dos outros.

Conversa com Prof.ª Maria João Marrafa: Texto
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